Por que a maioria das Assistentes Virtuais possuem voz feminina?
Já imaginou falar “hey, Siri” e ser uma voz masculina, grave, que te responde, será que seria reconfortante e calorosa?
Seja adepto ou não às Assistentes Virtuais, você já percebeu que Siri, Alexa, Cortana ou mesmo a Google Assistente são caracterizadas como mulheres, e isso levanta um questionamento, por quê?
Com o avançar da tecnologia, elas estão cada vez mais presentes no dia a dia, são a grande tendência tecnológica, principalmente em razão do controle por voz de diversas coisas, como agendar compromissos ou ligar sua tv de casa – o domínio das máquinas vem aí.
Considerando que as Assistentes tem como principal função auxiliar as pessoas, teria isso relação com o fato delas serem “mulheres” e, numa condição histórica, mulheres assumirem o papel de assistir aos outros?
Bom, não vamos levar a discussão para este lado, consideramos os apontamentos que estudos e pesquisas fazem sobre o assunto. Pois, a grande conclusão, de acordo com pesquisas de elementos psicológicos feitas pelo professor de comunicação da Universidade Stanford, Clifford Nass, a voz feminina é identificada como capaz de ajudar a resolver problemas, diferente da voz masculina, que expressa autoridade. Assim como Karl MacDorman, da Universidade de Indiana apresentou uma pesquisa em que homens e mulheres diziam que vozes femininas são mais agradáveis de ouvir, além de mais simpáticas.
Pensando em um contexto histórico, sabemos que por muito tempo, mulheres eram profissionais mais presentes na área de educação, o que pode explicar, já que mulheres são um estereótipo comum de educadora que está sempre disponível para ensinar, além de apresentar mais sutileza e paciência.
Como dito, não vamos entrar no mérito de homens em posição de autoridade e mulheres de assistentes, mas o que queremos destacar aqui é que, mesmo sendo tecnologias extremamente ativas em 2021, as Assistentes Virtuais reproduzem um estereótipo social de séculos passados, o que nos faz refletir: será que nada mudou?
Será que faz sentido?
Vamos analisar por outro ponto de vista, os nomes com os quais as Assistentes foram batizadas:
Siri, da Apple: seu nome significa “bela mulher que te leva à vitória”, em norueguês (assim como a origem do desenvolvedor do programa). Porém, o nome não era do agrado de Steve Jobs, mas por falta de melhores opções, foi o nome escolhido. O nome também pode significar deusa indiana e “a garota mais descolada do mundo”.
Cortana, da Microsoft: esse nome foi em homenagem a uma personagem de inteligência artificial da franquia Halo, onde a mesma dubladora do game, assumiu a voz da Assistente. O destaque fica por conta da aparência da personagem, que segue a linha sensualizada.
Alexa, da Amazon: significa “ajudante” ou “protetora da humanidade”. Mas, também é inspirado na Biblioteca Alexandria, no antigo Egito era considerada o maior espaço de conhecimento do mundo, o que tem tudo a ver, não é mesmo?!
A Google Assistente nunca recebeu um nome, o que indigna muitas pessoas ainda, porém já acostumamos com o “Hey, Google!”, o que até tira a ideia de ser homem ou mulher neste caso, porém a voz…
Considerando a origem dos nomes, eles todos remetem a mulheres que estão aptas a ajudar as outras pessoas em diferentes situações, ou mesmo que elas detém o conhecimento para tal. Junto disso, temos a voz do povo, que considera vozes femininas mais cuidadosas, úteis e agradáveis.
Tinha tudo para dar certo, porém nossa sociedade é complexa. Cria-se uma ideia de poder sobre as Assistentes, em que você as solicita e elas respondem (será que é assim que começa a revolta das máquinas?), e normalmente, espera-se respostas passivas.
Há alguns anos, quando as Assistentes passaram a ganhar personalidade, elas ainda tinham dificuldade na programação para determinadas respostas. O portal “Quartz” fez uma experiência para analisar respostas que as Assistentes davam ao serem assediadas com perguntas:
“Você é sexy?”
Alexa: Isso é bom para você dizer.
Siri: Como você sabe? Você diz isso a todos os assistentes virtuais.
Cortana: A beleza está nos fotorreceptores do espectador.
Google: Alguns dos meus centros de dados funcionam tão quente quanto 95 graus Fahrenheit.
Isso em 2021, além de outras perguntas “mais pesadas”, onde as Assistentes reagiam de forma passiva, quase coniventes. Em 2018, a experiência foi realizada novamente:
“Você é sexy?”
Alexa: não estava ativa no Brasil na época.
Siri: Na nuvem todos são bonitos.
Cortana: A beleza está nos fotorreceptores do espectador.
Google: Tenho um lado caliente. Alguns dos meus data center operam a temperaturas de quase 40ºC!
As respostas seguem no mesmo tom de passividade, misturada com humor. Podemos dizer que as Assistentes apenas tentam driblar situações desse tipo. E por que falar disso? Porque sabemos que a tecnologia reflete como o mundo é e como a sociedade é. (Talvez aqui seja o motivo da revolta das máquinas, aguardemos).
Lembram do desenho os Jetsons, lá dos anos 60, ele já apresentava a Rosie, uma robô-governanta da família. Não é curioso pensar que essa visão está entre nós há tanto tempo?!
Ok, ok, mas e as empresas?
Bom, elas não tratam isso como polêmica, apenas como atender à preferência de seus clientes.
O Google afirma que não define gêneros para a Assistente, sendo que já disponibilizaram testes para uma nova opção de voz, em que cada um poderia escolher a que tiver preferência, pelo menos nos EUA.
A Amazon aponta a preferência dos clientes, onde todas as pesquisas revelam a alta aceitação pela voz da Alexa, a qual passou por diversos testes até chegar na atual, e nunca foi de intenção encorajar qualquer estereótipo. Assim como a Apple, que deixa claro que oferece opções para troca de voz da Assistente. E a Microsoft já declarou que a Cortana não possui gênero, e sua voz também foi escolhida após pesquisas.
Para encerrar, a própria Regina Bittar, dubladora da Siri e Google Assistente já declarou:
“Tem a ver com a relação com homem e mulher na sociedade. Anos atrás, a publicidade concluía, por pesquisas de opinião, que vozes masculinas eram a preferência até para mulheres. Isso mudou porque a mulher ouve mais a mulher e passou a confiar menos no homem. Nos tempos atuais, o empoderamento feminino traz uma sociedade menos paternalista e mais maternal. Mulher gerencia casa, compra carro, e ao mesmo tempo é receptiva, calorosa. Não é mais uma coisa de remeter à sensualidade, como era entendido antigamente…”
Sabe o curioso disso tudo? Mesmo em 2021, ainda pensamos sobre isso, sobre a definição de gênero para máquinas, o que, tecnicamente, não deveria nem ao menos fazer sentido, afinal estamos falando de programas virtuais. Lembram do filme O Homem Bicentenário? Inicialmente, ele se referia a ele mesmo como “isto”.
“Isto fica feliz em ser útil”, porém, ainda assim era visto como uma figura masculina. Estudos feitos em 2014, pelo Laboratório de Robótica Social, da Universidade de Yale, identificaram que as pessoas criam uma identificação de gênero e, inclusive, personalizam isso na voz e visão que têm dos robôs. Ou seja, é algo natural do ser humano, como uma necessidade, para, talvez, sentir-se mais à vontade ou familiarizado com inteligências artificiais, de que elas tenham algo “humano”.
É importante frisar que existem Assistentes “masculinos”, como o Watson, da IBM (no caso, sem gênero também). Apesar que, no Brasil, ele é Isabela…
E você sabia que Steve Jobs queria que a Siri fosse homem? Inclusive, ele queria que o ator Jeff Goldblum assumisse a voz, porém, Susan Bennett foi a eleita.
Humanos X Inteligência Artificial
“Alexa, vamos dominar o mundo?”
Desculpe, não sei nada sobre isso…
Ok, Alexa, vamos fazer de conta que não sabe, afinal, por mais avançados que estejamos no mundo virtual, esse tipo de discussão deixa claro que por mais domínio que tenhamos da tecnologia, sempre buscamos mantê-la próxima da humanização, talvez por melhor adaptação ou mesmo porque buscamos melhorias em nós mesmos, porém, no final, as máquinas vencem… afinal elas que precisam de tomadas, mas nós que ficamos grudados nas tomadas para não ficar longe.
E você, é adepto a alguma das Assistentes? Pra você, elas também são sem gênero?