O conceito de Agentic Commerce está ganhando força após as novidades anunciadas pela OpenAI no ChatGPT, incluindo o Instant Checkout e os planos para uma plataforma de anúncios integrada. O movimento mostra que a empresa não é mais apenas criadora de modelos de linguagem, mas está se posicionando como um ponto de orquestração entre consumidores, marcas e transações digitais.
Nesse novo cenário, o valor não está mais em atrair visitas para páginas de destino, mas em ser citável e confiável pelos agentes de IA que intermediam decisões de compra, recomendações e até a visibilidade das marcas. Essa transição pode reconfigurar a disputa entre Google, Amazon e novos ecossistemas de IA, abrindo espaço para uma competição inédita no mercado digital.
Agentic Commerce e o papel do ChatGPT
O que é Agentic Commerce
Agentic Commerce é o modelo de comércio mediado por agentes de IA capazes de pesquisar, avaliar e decidir em nome do consumidor. Diferente do social commerce, que depende do engajamento via entretenimento, o Agentic Commerce atua na necessidade imediata: um usuário solicita algo, e o agente responde com recomendações e até a compra concluída, sem sair da interface.
Com a integração do Instant Checkout, o ChatGPT passa a ser não apenas um buscador inteligente, mas também um ambiente transacional. Isso o coloca diretamente na arena de plataformas que antes eram dominadas pelo Google (descoberta via busca) e pela Amazon (compra e logística).
Novidades recentes da OpenAI que moldam o futuro
1. Instant Checkout e padronização do comércio em IA
- Permite que usuários comprem diretamente dentro do ChatGPT, sem redirecionamentos.
- Funciona com base no Agentic Commerce Protocol, que busca padronizar como agentes interagem com catálogos e transações.
- O modelo prevê expansão futura para carrinhos, múltiplos lojistas e mais países.
- Os vendedores pagam comissão por venda, enquanto usuários não têm custo adicional.
Esse movimento sinaliza o início de um ecossistema transacional centralizado em agentes de IA.
2. Plataforma de anúncios integrada
- A OpenAI já testa estratégias que apontam para anúncios nativos no ChatGPT.
- A monetização tende a ser híbrida: comissão por transações mais inserções patrocinadas.
- Isso transformaria o ChatGPT em um ambiente zero-click, no qual descoberta, decisão e compra acontecem sem sair da conversa.
- Essa abordagem coloca a OpenAI em concorrência direta com o Google Ads, mas com uma vantagem: o contexto conversacional.
3. Sora 2 e a entrada no mercado de mídia social
- A evolução do modelo Sora trouxe geração de vídeo realista e um aplicativo de compartilhamento social inspirado no TikTok.
- Usuários podem criar vídeos com “cameos” digitais e interagir em um feed alimentado por IA.
- Esse passo mostra que a OpenAI também quer disputar espaço no consumo de conteúdo multimídia, além do comércio e da busca.
4. Deep Research e autoridade de conteúdo
- O ChatGPT passa a realizar pesquisas autônomas, com coleta, filtragem e citação de fontes externas.
- Isso reposiciona conteúdos originais, profundos e confiáveis como matéria-prima essencial.
- Marcas e publicações que produzirem conteúdos de qualidade têm mais chance de serem referenciadas por agentes e, portanto, permanecerem visíveis.
O novo panorama competitivo das Big Techs
As inovações da OpenAI abrem uma disputa entre ecossistemas de agentes que pode redefinir o mercado global:
- Google corre para adaptar sua busca ao modelo conversacional e transacional.
- Amazon enfrenta risco real de desintermediação se compras passarem a ser finalizadas diretamente em agentes como o ChatGPT.
- Meta, Apple e Microsoft exploram suas próprias versões de agentes, reforçando ecossistemas fechados e integrados.
- O consumidor tende a interagir cada vez mais com agentes, e não diretamente com sites ou aplicativos.
O impacto para marcas e negócios
O fim da visibilidade por tráfego tradicional
Sites e lojas perdem protagonismo quando o agente de IA passa a ser o curador e executor da jornada de compra. A visibilidade depende de ser integrado, citado e confiável, não apenas de estar bem posicionado no Google.
Autoridade como novo ranqueamento
- Conteúdos superficiais ou gerados em massa por IA tendem a ser descartados.
- Fontes com profundidade, dados originais e consistência serão privilegiadas.
- Estar presente em redes de citação confiáveis será tão ou mais importante que SEO clássico.
First-party data como defesa estratégica
- Dados próprios, coletados de forma consentida, são a chave para manter autonomia.
- Quem depender apenas de dados agregados ou de ecossistemas externos terá vulnerabilidade maior.
- O domínio do first-party data garante que empresas possam alimentar agentes internos e personalizar experiências.
Estratégias práticas para brigar por espaço com as gigantes
Para competir nesse cenário, pequenas e médias empresas devem adotar desde já uma mentalidade de Agent-Centric Marketing:
- Produzir autoridade: priorizar conteúdos originais, estudos, análises profundas e comparativos confiáveis.
- Estruturar dados: implementar schema.org, JSON-LD, APIs e feeds detalhados para tornar catálogos legíveis por agentes.
- Integrar-se a protocolos de comércio de IA: preparar-se para o Agentic Commerce Protocol e similares.
- Diversificar ecossistemas de IA: não depender só do ChatGPT; marcar presença em Gemini, Perplexity, Bard e outros.
- Construir confiança de marca: investir em transparência, governança de dados e parcerias estratégicas.
- Fortalecer first-party data: estimular o relacionamento direto com clientes para coletar dados estruturados e seguros.
- Acompanhar regulações: estar atento a legislações sobre IA, privacidade e responsabilidade algorítmica.
O avanço da OpenAI com o ChatGPT mostra que estamos entrando em uma era onde agentes de IA controlam a descoberta, a decisão e a transação. Nesse contexto, o Agentic Commerce não é apenas uma tendência, mas uma mudança estrutural na forma como marcas competem por visibilidade.
O futuro será dominado por quem conseguir ser referenciado, confiável e integrado nesses ecossistemas. Para empresas menores, a sobrevivência dependerá de investir em autoridade, dados estruturados e diversificação de presença em múltiplos agentes.